O escritor, vencedor dos prêmios Machado de Assis, São Paulo, Jabuti e APCA, reaparece em alto estilo, com o livro ‘A vida é traição’ (Editora Record)
ROBERTO PEREIRA
Publicado em 27/09/2025 às 15:58
| Atualizado em 27/09/2025 às 16:20
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Raimundo Carrero veio do sertão pernambucano, mais precisamente de Salgueiro, para, no Recife, dentre tantos cargos ocupados na imprensa pernambucana, começar a construir uma admirável trajetória na literatura pernambucana e brasileira.
Oficialmente, a gênese dessa trilha se deu com a publicação de A História de Bernarda Soledade – a tigre do sertão, prefaciado por Ariano Suassuna, quando corria o ano de 1975.
Para o autor, esse livro não é apenas um marco literário, mas também uma referência à sua identidade como escritor, representando a síntese da própria experiência, influências e dedicação à literatura, que valoriza o Brasil nas múltiplas dimensões.
Foi A História de Bernarda Soledade, segundo ele próprio, o seu caminhar junto ao Movimento Armorial, que deu passagem às tradições populares, da poesia de cordel à música de viola, aos brincantes, como está na bela página produzida por Alice Lins, na edição do JC de 26/9/25.
Quando presidi a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), pude editar, com elevada honra, dois dos seus livros: Viagem no Ventre da Baleia e Sombra Severa, este vencedor do Concurso José Condé, um dos prêmios da Fundarpe de incentivo à ficção.
Na orelha do seu livro Sombra Severa, o escritor Potiguar Matos exorta: “Há, pelo menos, um sertão de Guimarães Rosa, um sertão de Ariano Suassuna, agora um sertão de Raimundo Carrero.”
Esse sertão de Carrero é o seu Pernambuco em toda a inteireza de nossa cultura. É também, com seu regionalismo, a universalização de toda a bibliografia carreriana.
O escritor Raimundo Carrero, vencedor dos prêmios Machado de Assis (Fundação Biblioteca Nacional), São Paulo, Jabuti e APCA, reaparece em alto estilo, com o seu livro A vida é traição (Editora Record), levando ao mundo da leitura a leitura de um mundo estranho, o de Solano, pela quase tortura, pela inquietação espiritual, traço dos seus romances, da sua vasta e densa obra de ficção.
Ainda criança, bem criança, o escritor Raimundo Carrero escutou, logo após o falecimento de sua mãe, vítima de leucemia, a seguinte frase: “Eu sempre disse que esse menino ia matar a mãe de tanto aperreio.” A fala partiu de uma empregada doméstica. “Guardei isso como um castigo durante a vida toda”, confessa o autor no conteúdo do seu magistral livro.
De alguma forma, o assunto retorna à sua obra no novo livro. “Esse foi um tema que sempre quis tratar e que me atormentou muito”, afirma o premiado escritor.
Todavia, o enredo não é biográfico. A novela psicológica narra os conflitos internos de Solano, um homem que deseja a morte da própria mãe, em uma narrativa intensa sobre perdas e memórias. Ao longo da trama, ele é submetido a duros tormentos para confessar que matou a mãe.
Dessa forma, o livro dialoga com o conjunto de uma obra que investigou intensamente os meandros da psique humana e as complexidades das relações sociais.
Se Dostoiévski é um dos maiores romancistas e pensadores da história, na mesma dimensão podem os críticos literários situar Carrero, inclusive porque o nosso pernambucano do alto sertão também estuda e analisa o psique das pessoas, trazendo a lume os conflitos da natureza humana.
O jornalista e mestre da palavra, das oficinas literárias, do também presidente da Fundarpe quando Ariano Suassuna ocupou a Secretaria Estadual de Cultura, músico, imortal da Academia Pernambucana de Letras, o múltiplo homem das letras estará na XV Bienal do Livro de Pernambuco, assegurando o êxito do vitorioso evento, em que, através dos escritores, o Leão do Norte volta a falar para o mundo.
Carrero, há 50 anos provendo a alma da literatura pernambucana.
Os mistérios indecifráveis do espírito humano, tanto estão em Dostoiévski, quanto em Carrero, cabendo ao leitor penetrar nesses enigmas e descortinar verdades que emolduram o âmago dos seus personagens.
A cada ente, homem ou mulher, somente a geologia ao fazer prospecções nas camadas subterrâneas da alma, sempre tomadas pelos enigmas indecifráveis e que formam a humana anisedade, o toque misterioso da vida.
É nesse toque misterioso da vida que ecoam os clarins de uma aurora que nasce com magia e alegria.
Roberto Pereira é membro efetivo e benemérito do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, do Instituto Histórico, Arqueológico e Geográfico de Goiana, da Academia de Artes e Letras de Goiana, da Academia Brasileira de Eventos e Turismo e da Academia Pernambucana de Letras.




