Futuro da energia limpa desafia setor elétrico e domina debates em seminário nacional no Recife


Cortes na geração solar e eólica preocupam investidores e concentram discussões no seminário que reúne governo, Eletrobras e especialistas em energia

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No ano em que o Brasil sedia a 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30) e o mundo olha para o País como líder na transição energética, a produção de energia limpa enfrenta desafios. O futuro das fontes solar e eólica está na mesa. O tema dominou as discussões durante o 28º SNPTEE – Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, que começou domingo (19) e segue até esta quarta-feira (22), no Recife Expo Center.

Promovido pelo Comitê Nacional Brasileiro de Produção e Transmissão de Energia Elétrica (CIGRE-Brasil) e organizado pela Eletrobras, o SNPTEE 2025 contou com a participação de representantes do Ministério de Minas e Energia (MME), do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), além de CEOs de 60 empresas, profissionais do setor, pesquisadores e acadêmicos.

“O setor elétrico passará por transformações ainda mais profundas nos próximos dez anos do que nas últimas décadas. Estar preparado para essa jornada exige inovação, criticidade técnica e a colaboração de todos os agentes”, afirma o presidente do CIGRE–Brasil, João Carlos Mello.

Corte na geração eólica e solar

“O curtailment é o assunto do momento”, diz João Carlos. Os curtailments são os chamados cortes na geração de energia elétrica decididos pelo ONS. Isso acontece quando existe um descompasso entre os momentos em que a energia é gerada e os momentos em que é mais consumida. Hoje, o operador do sistema prefere cortar as fontes renováveis, como solar e eólica, que são mais fáceis de desligar. Os desligamentos são medidas para evitar apagões por sobrecarga no sistema.

“Isso tem deixado os investidores desses projetos muito inseguros para fazer novos investimentos, o que é ruim para o próprio Nordeste, que é o grande polo desses empreendimentos. Por isso, discutimos aqui novas tecnologias para melhorar essa situação — tanto do ponto de vista regulatório quanto tecnológico”, destaca.

“Armazenamento, por exemplo, é um dos efeitos mitigadores, assim como novas linhas e tecnologias de transmissão. O curtailment tem sido um tema central. Tanto é que o Legislativo está analisando a Medida Provisória 1.304, enviada pelo presidente Lula, e elaborando a melhor forma de ampliá-la para tratar melhor esses problemas que estão acontecendo.”

Prejuízos bilionários

Levantamento da consultoria Volt Robotics, de janeiro a setembro deste ano, mostra que o prejuízo com os cortes na geração de energia renovável chegou a R$ 4,2 bilhões. As empresas mais afetadas foram usinas solares e parques eólicos nos estados de Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco.



João Carlos Mello, presidente do CIGRE–Brasil, alerta para os desafios e as transformações do setor elétrico na próxima década – Divulgação

As discussões sobre os prejuízos às empresas foram parar na Justiça, com pedidos de ressarcimento. Elas querem ter a mesma situação de hidrelétricas e termelétricas, que têm direito a compensação.

“A operação do sistema é um aprendizado. Nunca tínhamos passado por algo assim — uma participação tão grande das renováveis, 93% de geração no Nordeste”, afirma. Ele defende que é preciso buscar soluções para enfrentar os desafios do setor elétrico.

“Claro que precisamos de uma organização para isso, algo que acelere as soluções. Então, temos muita expectativa e esperança de avanços. Ao final do congresso, teremos constatações e balanços sobre o que foi discutido, e veremos que grande parte das cobranças se concentra justamente nesse tema (curtailment)”, conclui João Carlos.



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