O Brasil é administrado como se fosse um comitê eleitoral permanente



Copiando antecessores (e ele mesmo) Lula recorre à máquina para reforçar narrativas, premiar aliados e conter divergências, mantendo o foco no poder.

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O uso da estrutura do Estado brasileiro para fins eleitorais passou a ser uma prática tão visível que chega a incomodar até quem é mais calejado no patrimonialismo brasileiro. No governo Bolsonaro, a gestão foi utilizada de todas as formas possíveis para tentar viabilizar a reeleição do então presidente, mesmo sem sucesso. Antes, Dilma Rousseff (PT) já havia “feito o diabo” (nas palavras do seu marqueteiro da época) para garantir a reeleição.

As decisões recentes do governo Lula (PT) são um outro exemplo e revelam uma engrenagem, desde já, voltada mais para a manutenção do poder do que para a administração pública.

Cargos, orçamentos e influências são utilizados como peças de um jogo que antecipa a eleição de 2026 e transforma a gestão federal em uma extensão da campanha. Guilherme Boulos, os Correios e a escolha para o STF são indicativos disso.

Boulos no Planalto

A nomeação de Guilherme Boulos (PSOL) para a Secretaria-Geral da Presidência sintetiza o uso político da máquina. O cargo, em tese, deveria fortalecer o vínculo entre o governo e os movimentos sociais, mas o movimento real foi eleitoral.

Boulos é o deputado mais votado de São Paulo e o principal nome da esquerda no Estado. Sua presença no Planalto garante acesso a estrutura, recursos e visibilidade, o que serve ao projeto de unificar a esquerda paulista contra Tarcísio de Freitas (Republicanos), adversário mais forte da direita e potencial candidato em 2026.

Lula, ao colocar Boulos no cargo, não apenas tenta criar pontes com os movimentos sociais, mas financia, com dinheiro público, uma base política que deve ser usada na próxima disputa.

Correios e a política de gratidão

O caso dos Correios mostra como empresas estatais continuam sendo moedas de troca na política brasileira. Mesmo com um prejuízo acumulado de quase R$ 7 bilhões em dois anos, a estatal segue dominada por interesses partidários.

Fabiano Silva, ex-presidente da empresa, foi uma indicação do grupo Prerrogativas, que apoiou Lula na Lava Jato. Sua gestão foi marcada por inexperiência e resultados financeiros desastrosos, mas cumpriu o papel de retribuir apoio político.

Agora, a própria direção da empresa virou instrumento de negociação com Davi Alcolumbre (União), numa tentativa de apaziguar divergências por causa da iminente indicação de Jorge Messias ao STF.

A empresa, em vez de ser saneada, segue usada como ferramenta de barganha, e quem paga a conta é o contribuinte.

O Supremo e as alianças

A escolha de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal completa esse quadro. Embora seja jurista experiente, sua indicação não foi apenas técnica. Ela atende a pressões do PT e de partidos aliados e, ao mesmo tempo, foi usada como parte de um tabuleiro maior que envolve recompensas e concessões.

Para amenizar o desconforto de Alcolumbre, preterido na escolha, o governo acenou com cargos e estatais. Essa estratégia revela que, em vez de pensar o STF como instituição de Estado, o Planalto o trata como componente da própria articulação de poder.

Um governo em campanha

Os três episódios mostram um padrão. O governo não separa mais o que é gestão do que é campanha, faltando um ano para o pleito.

A narrativa de defesa dos pobres contra os ricos, do povo contra o mercado, serve como pano de fundo para decisões que têm finalidade eleitoral. A estrutura do Estado é acionada para sustentar essa narrativa, oferecendo cargos, orçamentos e estatais como instrumentos de mobilização política.

Em vez de resolver os problemas que persistem, o governo os adia, concentrando esforços em garantir sua permanência.

O Brasil segue administrado por grupos que têm a administração como último item entre suas prioridades.

Não é por acaso que o Brasil é uma crise permanente.



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