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Presidente assume iniciativa do diálogo fora da agenda que surpreendeu presidente chines, chocou primeira dama anfitriã e criou problema político
Fernando Castilho
Publicado em 15/05/2025 às 8:10
| Atualizado em 15/05/2025 às 8:15
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O presidente Lula da Silva perguntou ao presidente da China, Xi Jinping se era possível ele “enviar para o Brasil uma pessoa da confiança para a gente discutir a questão digital – sobretudo o TikTok e que sua esposa Janja pediu a palavra para explicar o que está acontecendo no Brasil, sobretudo contra as mulheres e as crianças”.
Não se sabe, ao certo, se o diálogo aconteceu nessa ordem. Ou se o presidente socorreu sua esposa assumindo a iniciativa. Ou se a socorreu depois que a primeira-dama, de forma intempestiva, quebrou o rígido protocolo e se dirigiu ao presidente chinês diretamente o abordando com um tema altamente sensível, causando um grande incidente diplomático.
Ao que se soube até agora, segundo Lula, o presidente chinês ouviu o pedido e lembrou que o Brasil tem o direito e o poder de fazer a regulamentação das redes e até banir a plataforma do País.
De qualquer forma o estrago está feito e aparentemente o presidente brasileiro e sua esposa não tem qualquer ideia do que uma visita de “uma pessoa da confiança” do presidente chinês causaria no Brasil.
E também o que a inclusão do tema num jantar de gala dos dois casais causa nas relações dos dois países uma vez que não foi analisado pela diplomacia de Brasília e Pequim avaliando que a gentileza dos casal Jinping – Peng Liyuan lhes autorizava abordar qualquer tema de maneira informal e direta. O que sob qualquer aspecto é um enorme esquivo.
Temas tratados com presidente de países como a China são precedidos de rigorosa combinação diplomática, não havendo espaço para improvisos especialmente dos visitantes na casa do anfitrião.
Representante da China ao Brasil poderia fazer TikTok mudar?
Mas a introdução de um tema tão sensível a Pequim causou sérios problemas no Brasil. Primeiro, pela visão simplória do casal presidencial dando conta de que a visita de um representante da China ao Brasil poderia fazer o TikTok colocar filtros de modo a restringir o acesso, como disse a primeira dama, segundo Lula, sobretudo contra as mulheres e as crianças.
Segundo porque o presidente na sua resposta a jornalistas suprimiu uma frase importante da primeira-dama quando se dirigiu a Xi Jinping quando afirmou que o algoritmo do aplicativo favorecia a direita.
Há pouca chance de que após a repercussão Xi Jinping envie mesmo “uma pessoa da confiança para discutir a questão digital”. Mas o que ficou claro é que o presidente brasileiro não tem ideia do impacto político de sua intervenção e sua esposa na China.
Uma pessoa da confiança do presidente da China se reunirá com quem? Iria a que instituições? Falaria com as autoridades além do próprio presidente e Janja? E como sua presença seria recebida no Congresso?
A questão da regulação da internet está parada no Congresso, porque a casa não se sente em condições de abordá-la como segurança há mais de dois anos. O Supremo Tribunal Federal suspendeu sua análise na expectativa de receber uma nova legislação do Congresso. E o governo não tem condições políticas de abordá-la em nível de proposta porque corre o risco de ser derrotado pela oposição.
Lula mais uma vez atravessou a rua para escorregar numa casca de banana ao introduzir junto com sua esposa um tema altamente complexo que efetivamente não tem hoje condições políticas de liderar.
O impacto no Congresso não podia ser outro como os deputados da oposição reagindo à colocação da primeira-dama sobre uma suposta vantagem que o algoritmo do TikTok lhe daria. O deputado Mendonça Filho já protocolou um pedido de explicações do Chanceler Mauro Vieira.
Mas a visão rasa da primeira-dama de que a direita se aproveita do algoritmo do TikTok é uma oportunidade para mais uma vez abordar a questão de o quanto o governo Lula é analógico e como opiniões de não especialistas como Janja podem ter destaque no debate de um tema tão relevante.
O Brasil tem um marco regulatório, uma lei de Defesa do Consumidor e todo um protocolo de controle que inclusive permitiram ao STF enfrentar no Brasil problemas causados pelas plataformas de rede social.
China não é bom exemplo de liberdade nas redes sociais
E com certeza a China não é nenhum exemplo de liberdade dos usuários nas redes sociais. Os níveis de camadas e filtros colocados pelo estado chines impedem qualquer contestação ao governo. Inclusive com punições sem qualquer direito de defesa.
Certamente se o Brasil precisar de opiniões não procuraria na China mesmo sendo representante chines de uma pessoa da confiança do presidente chines que teria a dizer.
E existe o fato de como seria a participação do do TikTok nessa conversa. O mesmo TikTok que está no centro de um embate do governo dos Estados Unidos e cujo banimento foi suspenso pelo presidente Donald Trump postergando uma nova lei.
Mais uma vez em uma viagem internacional, o presidente Lula é capaz de ofuscar os ganhos de sua diplomacia e do empresariado com um tema periférico embora o incidente na China tenha sido muito mais grave.
Lula interditou de vez um debate sobre como resolver a questão do tráfego na internet de uma forma tosca, deselegante e equivocada. O que nos leva a pergunta: o que depois da partida de Lula e Janja devem estar pensando o casal Xi Jinping e Peng Liyuan?